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Serviços dos ecossistemas – Para quê salvar espécies em perigo de extinção?

Em 1981, os gorilas-das-montanhas estavam quase a desaparecer. Confinados a uma pequena área nas montanhas da África Central, com os humanos a invadir o seu território com a guerra civil e para caçar, a sua população estimava-se em 254 indivíduos. Mais recentemente, um estudo de 2012 afirmou que a população tinha subido para os 880. Foi uma grande melhoria, mas mesmo assim, esta continua a ser uma espécie em perigo de extinção.

Ouvimos relatos semelhantes a toda a hora, de todas as partes do mundo. Quer sejam tigres, pandas, lobos, linces ou recifes de coral, grande parte da vida selvagem está sob ameaça.

Mas vale a pena preocupar-nos com isso? Claro, seria triste se deixassem de existir pandas fofinhos no planeta. No entanto, nós não dependemos deles. Além disso, certamente que é mais importante cuidar dos seres humanos do que gastar milhões de euros na conservação de animais. Então, para quê salvar espécies em perigo de extinção?

 
Para quê salvar espécies em perigo de extinção?

Antes de falarmos nas razões pelas quais devemos preocupar-nos em salvar as espécies em perigo de extinção, vamos enumerar as várias razões pelas quais NÃO nos devemos preocupar em conservar a natureza.

  • A razão mais óbvia é o dinheiro. Um estudo de 2012, estimou que custaria 76 mil milhões de dólares, ou seja 69 mil milhões de euros, por ano para conservar animais terrestres ameaçados.
  • Pode ser particularmente difícil perceber quais as vantagens de preservar animais como os lobos, que representam uma ameaça tanto para pessoas como para o gado.
  • As espécies estão sempre a desaparecer. Já ocorreram cinco extinções em massa no nosso planeta. A mais recente ocorreu há 65 milhões de anos, quando os dinossauros desapareceram. Se estes processos ocorrem mesmo na ausência do ser humano, porque nos deveríamos preocupar? Uma resposta a esta pergunta é que as espécies estão a desaparecer de uma forma muito rápida, e parece que a culpa é nossa.

Pode defender-se que devemos conservar os animais e plantas do nosso planeta devido à sua beleza, tal como conservamos obras de arte como a Mona Lisa. Muitos de nós gostam de caminhar numa floresta perdida ou fazer mergulho num recife de coral. Mas o primeiro problema deste argumento é que todos os seres vivos que gostamos menos, como os feios ou mal cheirosos, ficam de fora.

Para uma pessoa do mundo ocidental, preservar um tigre porque é estimulante olhar para ele durante um safari parece razão suficiente. No entanto, para um aldeão na Índia rural, cuja família está em perigo por causa de um tigre, o facto de ser um animal incrível não é razão suficiente para não o matar.

É frequente ouvir-se que devemos preservar as florestas, porque podem conter coisas úteis para o ser humano, em particular medicamentos. A pergunta clássica é “e se uma planta que pode ser a cura para o cancro se extinguir?”.

A prática de explorar a natureza para encontrar produtos comercialmente úteis é chamada de bioprospeção. Às vezes encontram-se coisas úteis, mas podem trazer uma série de problemas. A primeira é que existem muitas maneiras de encontrar novos medicamentos, que não envolvem fazer trekking através de milhares de quilómetros de selva perigosa na ténue esperança de encontrar uma planta milagrosa. Existe também a questão de quem controla o conhecimento. Muitas vezes, as pessoas locais já sabem quais os usos medicinais das plantas, e opõem-se a pessoas de fora que tentam agarrar esse conhecimento.

E, novamente, o que acontece com todas as espécies que não fazem coisas úteis para nós? É pouco provável que o sangue dos gorilas-das-montanhas contenha a cura do cancro. Portanto, este argumento, apesar de ter alguma força, não nos leva muito longe.

O grande salto chegou na década de 1990, quando os biólogos começaram a definir todas as formas em que os animais e plantas nos beneficiam apenas por existirem. Esses benefícios, que a maioria de nós acha que são garantidos, chamam-se de “serviços dos ecossistemas“.

Alguns dos serviços dos ecossistemas são óbvios, como por exemplo, existem plantas e animais que nos servem de alimento. Enquanto o fitoplâncton e plantas verdes produzem o oxigénio que respiramos. Ou os insetos polinizadores, como as abelhas, que permitem que as árvores dêem frutos para nós comermos.

Muita da nossa agricultura depende dos insetos.

Em 1997, o ecologista Robert Costanza e seus colegas estimaram que a biosfera fornece serviços no valor de aproximadamente 33 triliões de dólares por ano (em sistema americano, 33 biliões em sistema português). Para efeito de comparação, toda a economia global tinha produzido cerca de 18 triliões de dólares num ano (em sitema americano, 18 biliões em sistema português). 5 anos mais tarde, os cientistas concluíram que os benefícios eram superiores aos custos em 100 vezes. Ou seja, conservar a natureza é sem dúvida um excelente investimento.

A maior parte dos serviços dos ecossistemas na Europa encontra-se degradada, ou seja não conseguem fornecer a quantidade e qualidade ideal de serviços básicos, como a polinização das culturas agrícolas, ar e água limpos e controlo de inundações e erosão.

Um exemplo simples é as férias em modo safari que levam os turistas a ver os gorilas-das-montanhas – Ecoturismo. As pessoas que organizam esse tipo de passeios têm um claro incentivo para manter os animais seguros. Os gorilas são o seu meio de subsistência, podendo gerar mais dinheiro do que trabalhar na agricultura.

Apesar de parecer que os serviços dos ecossistemas têm uma abordagem seletiva e se preocupam com espécies específicas, não é bem assim. Vamos considerar os gorilas-das-montanhas novamente. Eles vivem em locais da montanha com florestas densas. Se queremos preservar os gorilas, também temos de preservar o ecossistema em que vivem. Os gorilas-das-montanhas são parte de uma rede ampla de espécies, e é difícil separá-los. Acabar com uma dessas espécies pode não fazer muita diferença, ou então, pode causar uma reação em cadeia que altera todo o ecossistema. É difícil prever o efeito de matar uma espécie, a menos que a mates – e então é tarde demais para reverter isso.

Mas a conservação das florestas não é importante apenas pelos gorilas da montanha. As florestas prestam-nos imensos serviços como por exemplo: ar puro, abastecimento de água regular, e seguram a água das chuvas torrenciais, evitando cheias.

Esta é uma nova forma de pensar sobre a conservação. Para entender o quanto dependemos dos serviços dos ecossistemas, basta imaginar um mundo onde os seres humanos são a única espécie – talvez em uma nave espacial longe da Terra. Não há plantas que produzam oxigénio, então tínhamos que arranjar uma maneira de o fazer. Imediatamente precisaríamos de uma central de processamento de químicos, para os nossos resíduos. E essa mesma central teria que produzir água para bebermos. Também não haveria nada para comer, por isso teríamos que artificialmente criar alimentos. Poderíamos sintetizar produtos químicos como açúcares e gorduras, mas torná-los apetitosos seria extremamente difícil.

Mesmo que, em teoria, conseguíssemos fazer todas essas coisas artificialmente, seria muito difícil. É muito mais fácil deixar que a vida selvagem as faça por nós, de forma gratuita.

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