Os oceanos cobrem cerca de 70 % da superfície do nosso planeta e há lixo marinho praticamente por toda a parte. O lixo marinho, principalmente os plásticos, ameaça não só a saúde dos nossos mares e costas, mas também a nossa economia e as nossas comunidades. A maior parte desse lixo provém de atividades terrestres.
A viagem interminável dos plásticos
Em 2007, um grupo bastante invulgar de náufragos deu à costa no norte da França. Era constituído por patinhos de borracha e acabava de concluir uma viagem épica com 15 anos, iniciada em janeiro de 1992, data em que um navio que viajava entre Hong Kong e os Estados Unidos perdeu parte da carga durante uma tempestade. Um dos contentores caídos ao mar continha 28 800 brinquedos, alguns dos quais tinham aparecido anos antes na costa australiana e na costa leste dos Estados Unidos. Outros atravessaram o Estreito de Bering e o Oceano Ártico, tendo chegado à Gronelândia, ao Reino Unido e à Nova Escócia.
Os patinhos de borracha não são a única forma de lixo fabricado pelo homem que anda à deriva nos nossos mares. O lixo marinho é composto por materiais sólidos fabricados ou transformados (por exemplo, plástico, vidro, metal e madeira).
Cada ano, aproximadamente 10 milhões de toneladas de lixo acabam nos mares e oceanos do planeta. Os plásticos, e em especial os resíduos de embalagens de plástico, como garrafas de bebidas e sacos não reutilizáveis, são de longe o principal tipo de detrito encontrado no ambiente marinho. E a lista continua: redes de pesca estragadas, cordas, pensos higiénicos, tampões, cotonetes, preservativos, pontas de cigarro, isqueiros descartáveis, etc.
Ao contrário dos materiais orgânicos, o plástico nunca “desaparece” na natureza e acumula-se no ambiente, principalmente nos oceanos. A luz do sol, a água salgada e as ondas fragmentam os plásticos em pedaços cada vez mais pequenos. Uma fralda descartável ou uma garrafa de plástico podem levar cerca de 500 anos a desagregar-se em fragmentos microscópicos. Mas nem todos os microplásticos resultam do processo de fragmentação. Alguns produtos que consumimos, como os dentífricos, os cosméticos e os produtos de higiene pessoal, também contêm microplásticos.
As correntes marítimas associadas aos ventos e à rotação da Terra aglomeram esses fragmentos, e criam grandes manchas em superfícies denominadas giros. Estima-se que o maior e mais estudado, o Giro do Pacífico Norte, tenha arrastado 3,5 milhões de toneladas de lixo, afetando uma área equivalente ao dobro da superfície dos Estados Unidos. Há outros cinco grandes redemoinhos nos nossos oceanos onde os resíduos também estão a acumular-se, incluindo no Atlântico.
Alguns fragmentos depositam-se nas praias e misturam-se com a areia até nas regiões mais remotas do planeta. Outros são incorporados na cadeia alimentar.
De onde vem tanto lixo marinho?
Segundo algumas estimativas, cerca de 80 % dos detritos encontrados no ambiente marinho têm origem em atividades realizadas em terra. Os rios, as inundações e o vento transportam o lixo para o mar. As atividades piscatórias, o transporte marítimo e as instalações offshore, como as plataformas petrolíferas, e o sistema de esgotos são responsáveis pelo restante.
É difícil calcular com precisão os impactes produzidos pelo lixo marinho. Todavia, há dois efeitos negativos fundamentais para a fauna marinha: a ingestão e o enredamento.
Uma investigação realizada pelo Algalita, um instituto independente de investigação marinha sedeado na Califórnia, concluiu em 2004 que as amostras de água do mar continham seis vezes mais plástico do que plâncton.
Em virtude da sua dimensão e prevalência, os animais marinhos e as aves marinhas confundem o lixo com alimento. A ingestão de plásticos afeta grandes cardumes de peixes e bandos de aves marinhas. Por exemplo, mais de 90% dos fulmares que apareceram mortos em praias do mar do Norte tinham plástico no estômago.
Um estômago cheio de plástico indigerível pode impedir o animal de se alimentar, levando-o a morrer de fome. As substâncias químicas presentes nos plásticos também podem atuar como venenos e, dependendo da dose, podem enfraquecer o animal de forma permanente ou matá-lo.
Os pedaços de plástico de maior dimensão também constituem uma ameaça para os animais marinhos. Muitas espécies, nomeadamente focas, golfinhos e tartarugas marinhas, podem enredar-se nos detritos de plástico, bem como nas redes de pesca e nas linhas perdidas no mar. A maior parte dos animais que ficam enredados não sobrevive, visto que não conseguem subir à superfície das águas para respirar, fugir dos predadores e alimentar-se.
A ponta do icebergue
O lixo marinho é um problema à escala mundial, sendo difícil recolher dados fiáveis. As correntes e os ventos fazem circular os pedaços visíveis, o que pode levar a que o mesmo detrito seja contabilizado mais de uma vez. Além disso, pensa-se que apenas uma pequena parte do lixo marinho esteja a flutuar ou dê à costa. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), apenas 15 % dos destroços marinhos flutuam à superfície do mar; outros 15 % permanecem na coluna de água e 70 % estão depositados no fundo do mar.
A parte “invisível” dos destroços continua a afetar a saúde global do ambiente marinho. Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 640 000 toneladas de artes de pesca sejam perdidas, abandonadas ou deitadas fora. Estas “redes fantasma” continuam a capturar peixes e outros animais marinhos ao longo de décadas.
Ao consumir peixe e marisco exposto ao plástico e aos produtos químicos petrolíferos nele contidos, a saúde humana também é posta em risco, mas os impactes para a saúde humana não são inteiramente conhecidos.
As comunidades costeiras são as mais afetadas
Mais de 40 % da população da UE vive nas regiões costeiras. Para além dos seus custos ambientais, o lixo marinho também tem custos socioeconómicos, afetando sobretudo as comunidades costeiras. Um litoral limpo é essencial para o turismo de praia. Em média, são encontrados 712 elementos de lixo numa extensão de 100 m de praia na costa atlântica. Para tornarem as suas estâncias balneares mais atrativas para os turistas, muitas comunidades e empresas têm de limpar as praias antes do início da estação estival. Por exemplo, no Reino Unido, os municípios gastam aproximadamente 18 milhões de Euros por ano na limpeza das praias.
O que podemos fazer? Prevenir!
Alguma legislação da União Europeia incide diretamente sobre as questões marinhas. Por exemplo, a Diretiva-Quadro «Estratégia Marinha» da UE, adotada em 2008, identifica o lixo marinho como um dos domínios de intervenção com vista à obtenção de um bom estado ambiental de todas as águas marinhas até 2020. Dando seguimento a estas diretivas da União e ao compromisso global expresso na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20, em 2012, o Sétimo Programa de Ação em matéria de Ambiente da UE (2014-2020) prevê o estabelecimento de um nível de referência e a fixação de uma meta de redução.
À semelhança do que acontece com a gestão dos resíduos em geral, o ponto de partida do combate ao lixo marinho é a prevenção.
Para o efeito, a UE tem políticas e legislação destinadas a melhorar a gestão de resíduos, reduzir os resíduos de embalagens e aumentar as taxas de reciclagem (sobretudo de plásticos), melhorar o tratamento das águas residuais e, em geral, utilizar os recursos com mais eficiência. Também existem diretivas para reduzir a poluição proveniente dos navios e dos portos.
Limpar
Existem várias iniciativas para recolher este lixo marinho, com navios que recolhem o lixo marinho de forma semelhante à recolha de resíduos urbanos feita em terra. No entanto, os métodos utilizados não permitem recolher lixo de dimensão inferior a um determinado nível, o que continua a deixar o problema dos microplásticos sem solução. Além disso, devido à amplitude do problema e à dimensão dos nossos oceanos, estas iniciativas são demasiado limitadas para que resultem em melhorias concretas.
O mesmo se pode dizer das atividades de limpeza nas praias e costas. Ainda assim, estas iniciativas são uma boa forma de sensibilizar os cidadãos para o problema do lixo marinho e envolvê-los na sua resolução.
Um dos projetos mais interessantes que está a ser desenvolvido para limpar os oceanos é o “Ocean Cleanup” e foi idealizado por um rapaz de 19 anos.
Fonte: Agência Europeia do Ambiente
No caso de grandes superfícies comerciais (centros comerciais, hipermercados) a gestão de resíduos é muito complexa. Veja o projeto de gestão de resíduos que a NOCTULA – Consultores em Ambiente desenvolveu no Palácio do Gelo Shopping em Viseu: http://noctula.pt/?p=773.