O solo é um ecossistema complexo e muito rico. É a base de sustentabilidade da vida no planeta.
Após os incêndios florestais que devastam muitos hectares de área florestal do país, o solo sofre inevitavelmente alterações. Muda não só a disponibilidade de nutrientes, a estrutura, mas também a diversidade de espécies que dele dependem.
Maria Amélia Martins-Loução, presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), explicou algumas das alterações que do solo após os incêndios:
- A intensidade do fogo é um factor crítico que afeta a dinâmica dos nutrientes no solo. Por exemplo, o azoto é facilmente volatilizado durante todo o processo de queima intensa. Pelo contrário, o fósforo aumenta em quantidade disponível;
- O fogo reduz a matéria orgânica disponível;
- A física do solo fica também bastante afetada devido à perda de matéria orgânica. A perda de elementos com a areia, o limo e a argila, altera a estrutura do solo. Nestas circunstâncias, a densidade do solo pode aumentar ao mesmo tempo que diminui a sua porosidade e por isso a capacidade de absorver água;
- A acumulação de cinza à superfície, que funciona como uma matéria impermeável, cria condições para impedir a infiltração da água e assim, diminuir a capacidade de retenção da água ao nível do solo;
- Os incêndios provocam uma elevada redução da biodiversidade do solo.
Os micro e macro invertebrados são os primeiros a desaparecer porque são queimados ou ficam sem habitat.
A diversidade de microflora em termos de número de bactérias e fungos diminui, embora a diversidade funcional possa manter-se elevada permitindo um aumento dos processos de reciclagem de nutrientes e o restabelecimento da estrutura do solo e a disponibilidade de matéria orgânica.
- No caso das plantas, a área ardida normalmente dispõe de um banco de sementes disponível para germinar logo que as primeiras chuvas surjam. Esse banco de sementes poderia ser muito útil para cobrir rapidamente o solo se na sua maioria não fossem asespécies invasoras.
O que podemos fazer para evitar a erosão?
Uma das principais consequências dos incêndios florestais está relacionado com a erosão do solo que se encontra desprotegido durante a época de chuvas. Nesse sentido, é essencial que se implementem medidas adequadas para prevenir ou minimizar os efeitos de erosão e perca de solo.
Os riscos de erosão depois de um fogo dependem essencialmente de três fatores:
- Declive dos terrenos afetados;
- Natureza geológica e pedológica do terreno;
- Intensidade das chuvas (particularmente as primeiras) que se seguem aos incêndios.
A intensidade das primeiras chuvas de Inverno é determinante nos efeitos erosivos ao nível do solo. Muita precipitação inicial tem efeitos catastróficos. Por outro lado, uma pluviosidade menos intensa favorecerá o estabelecimento de uma primeira vegetação de cobertura que diminuirá o efeito da erosão.
A LPN – Liga para a Proteção da Natureza apresenta algumas soluções:
Boas Práticas Florestais
A primeira intervenção é o corte da madeira queimada. No entanto, devem-se ter alguns cuidados:
- Deve-se cortar apenas o que não tem viabilidade de regenerar;
- Sempre que possível deixar em pé o arvoredo afetado mas com capacidade de resistir. Atenção particular ao carvalho-negral, sobreiro e azinheira;
- Cuidados com o arrastamento dos toros, pois este processo implica a movimentações de maquinaria pesada sobre o terreno. Esta atividade deve ser restrita ao essencial, de modo a evitar o aparecimento de fendas que promovam um maior escoamento da água.
*No caso de árvores folhosas (carvalho, bétulas, choupo, amieiros, azinheira, sobreiro, etc.), não se deve abater nenhuma árvore. Deve-se primeiro deixar passar a primavera para um diagnóstico mais rigoroso sobre o estado das árvores.
*O medronheiro por exemplo regenera facilmente, nesse sentido, deve-se cortar apenas os troncos queimados para proteger a rebentação na primavera.
*Relativamente às árvores resinosas, devem ser cortadas apenas as árvores cuja copa se encontre completamente afetada.
Criação de barreiras com a vegetação
A vegetação queimada que após o corte é deixada no terreno pode ser aproveitada para a criação de barreiras ao escoamento da água.
Abertura de valas de retenção
As valas devem ser recobertas com pedras ou restos de material vegetal queimado de modo a aumentar o atrito, reduzindo assim a velocidade de escoamento da água e, logo, o seu efeito de erosão. A dimensão deve ser relacionada com o grau de pluviosidade prevista para a área.
Construção de açudes de retenção
O sistema de valas pode ser desenhado de modo a desaguar em pequenos açudes de retenção. Nestes pequenos charcos a água acumulada terá possibilidade de se infiltrar no solo. A taxa de infiltração de água poderá ser grandemente aumentada com a plantação de espécies adaptadas a zonas húmidas.
Valas de drenagem com barragens de correção torrencial
Nas valas abertas para drenagem podem ser espaçadamente construídas barragens de correção torrencial de construção básica, (ex: toros de suporte e tábuas para barrento do curso de água). O objetivo não é barrar todo o escorrimento da água mas sim, retardar no tempo esse escorrimento evitando caudais tumultuosos e mantendo um fluxo de água mais ou menos regular.
Semear com a chegada das primeiras águas
Efetuar, se possível, uma sementeira de pasto às primeiras chuvas, espalhando as sementes na zona afetada pelos fogos. O pasto, que rapidamente crescerá, ajudará a consolidar o solo.
Especialistas em recuperação de áreas ardidas, afirmam que mexer nas zonas ardidas pode ser ainda pior que os incêndios. Se o solo fragilizado ficar totalmente nu provocará uma maior erosão dos solos.
Francisco Moreira, investigador do Instituto Superior de Agronomia e do CIBIO do Porto, refere que “do ponto de vista ecológico, isto não é uma catástrofe, as plantas estão adaptadas ao fogo e a maioria vai regenerar. O eucalipto irá recuperar e os pinheiros, se estiverem em idade adulta, terão armazenado sementes que depois germinarão. As nativas estão também habituadas ao fogo que sempre fez parte dos ecossistemas mediterrânicos.”
O perigo está nas espécies invasoras (ex: acácias (mimosas) e as Hakeas). Estas espécies gostam de fogo, competindo com as espécies nativas. Normalmente as espécies invasoras prevalecem pois são muito difíceis de irradicar.
O que é fundamental, é cortar as árvores que estão em perigo de cair, usar os troncos para fazer de mini barreiras nas encostas e evitar a perda de solo e criar mini-habitats. Depois é esperar pela Primavera, afirma o investigador.
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Fomos responsáveis pela Inventariação e Cartografia de Manchas de Espécies Exóticas Invasoras, na área do Aproveitamento Hidroelétrico do Mel.
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