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Há 15 territórios da Rede Natura 2000 afetados pela presença de eucaliptos

Recentemente foi publicado um artigo científico, intitulado Mapping of Eucalyptus in Natura 2000 Areas Using Sentinel 2 Imagery and Artificial Neural Network, elaborado pelos investigadores Andreas Forstmaier e Jia Chen, da Universidade Técnica de Munique, com a colaboração do engenheiro Ankit Shekhar, da Universidade de Zurique. O artigo é resultado de um estudo que teve como objetivo mapear a existência de eucaliptos (Eucalyptus Globulus) na Península Ibérica, através de um método que utiliza imagens multi-espectrais de resolução média, provenientes dos satélites usados nas missões espaciais Sentinel 2.

No estudo foram examinadas áreas pertencentes à Rede Natura 2000, de forma a identificar “pequenas e incipientes populações, assim como “plantações ‘mistas’ fora do perímetro das áreas de plantações regulares”.

Os investigadores responsáveis por este estudo alertam para o facto de que, só no território português, já há 15 territórios pertencentes à Rede Natura 2000 afetados pela presença de eucaliptos, dos quais 9 estão fortemente afetados.

Para consultar o estudo completo clique AQUI

Como surgiu a espécie Eucalyptus Globulus na Península Ibérica?

Os primeiros registos da espécie eucalyptus em território europeu remontam ao final século XVIII, quando por razões ornamentais, as árvores foram exportadas da Austrália para várias outras regiões do mundo, incluindo a Europa.

Não foi necessário passar muito tempo, para que o carácter adaptativo da espécie, aliado a um crescimento rápido se destacasse, despertando a partir do século XX o interesse de inúmeras indústrias, que consequentemente levou à introdução em larga escala do Eucalyptus globulus, um pouco por todo o mundo, em especial no continente europeu.

No entanto, os efeitos negativos das plantações sobre o meio ambiente e os ecossistemas começaram a ser visíveis.

Portugal e Espanha tornaram-se dois dos hotspots para as plantações de árvores de crescimento rápido. Embora não seja reconhecido pelas autoridades portuguesas como invasora e esteja ausente na legislação regulamentar, esta espécie tornou-se invasora em algumas áreas, substituindo gradualmente espécies autóctones. Isso representa um risco para os ecossistemas frágeis com implicações diretas e indiretas para os humanos.

O impacto económico das espécies invasoras na Europa foi estimado em cerca de 10 bilhões/€ por ano e é provável que esta estimativa não esteja atualizada, uma vez que o impacto ambiental e económico de quase 90% das espécies exóticas na Europa ainda é desconhecido.

 Rede Natura 2000

Na Europa, os ecossistemas da Rede das Áreas Natura 2000 são protegidos de acordo com a diretiva relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens (92/43/CEE) e a diretiva relativa à conservação das aves selvagens (2009/147 / CE). Para cada área é definida uma lista de espécies protegidas e as medidas que os estados membros devem assegurar para a sua conservação e preservação.

Segundo Andreas Forstmaier, a escolha dos territórios pertencentes à Rede 2000 neste estudo, teve em consideração o facto de estarem em causa “zonas protegidas e que, como tal, devem ser monitorizadas com mais detalhe, para que os seus ecossistemas mais sensíveis sejam preservados”.

O investigador considera que “a substituição gradual das espécies autóctones por população invasiva, é uma das maiores ameaças ambientais“. Referindo ainda que “estes ecossistemas são únicos e albergam várias espécies ameaçadas que dependem de um ambiente intacto, que precisa de ser protegido e preservado”.

Mapeamento de Eucaliptos usando imagens espaciais Sentinel 2

A presença de espécies invasoras perturba a composição natural dos habitats e diminui o nível de conservação dos locais. Assim, a monitorização e mapeamento destas espécies é extremamente importante, pois ajuda a quantificar e localizar áreas onde espécies exóticas penetram nos ecossistemas.

Vantagens

Segundo os investigadores, a utilização do método baseado na monitorização por satélite é uma mais valia por duas razões:

  1. Facilita o trabalho de campo. Os levantamentos de campo para grandes áreas podem tornar-se trabalhosos;
  2. A intervenção precoce e a deteção de populações pequenas e incipientes são fundamentais para se obter um controle eficaz.

 

Andreas Forstmaier explica que as imagens multi-espectrais utilizadas também facultam mais informações do que as imagens de cor, porque contêm “partes do espectro da luz que não são visíveis ao olho humano, por exemplo, infravermelhos, sendo por isso, normalmente usadas para a monitorização de culturas ou florestas, inclusive com informações sobre a atividade fotossintética das plantas”.

A aposta desta metodologia no estudo deve-se ainda à componente automatizada e à disponibilidade no acesso às imagens, que podem ser consultadas por qualquer cidadão que tenha acesso a um computador.

Este é o primeiro estudo a oferecer um mapa de resolução espacial de 10 metros das ocorrências de eucalipto, mesmo para as áreas externas às plantações regulares da Península Ibérica ocidental, através da utilização de imagens provenientes dos satélites usados nas missões Sentinel 2.

Aplicabilidade

O investigador refere que este método tem aplicabilidade para fins no âmbito da gestão florestal, como por exemplo:

  • forçar o cumprimento de leis e as limitações às plantações de eucaliptos;
  • deteção dos esforços dos proprietários em demarcar a incontrolável propagação dos eucaliptos em redor e fora das propriedades;
  • localização de propriedades não registadas;
  • na prevenção de fogo as imagens podem ser usadas para identificar as áreas que estão densamente cobertas por monoculturas de eucaliptos.

 

O efeito mais visível das plantações de eucaliptos em larga escala, com especial destaque para os territórios ibéricos, são os incêndios florestais e a rapidez com que a espécie renasce depois do incêndio, em comparação com as árvores nativas. Por outras palavras, “os eucaliptos substituem a vegetação existente e atuam como combustível para potenciais incêndios florestais futuros”, refere Andreas Forstmaier.

Para fazer frente a esta realidade o investigador apresenta algumas soluções:

  • pequenas populações têm de ser removidas e substituídas por espécies autóctones;
  • deve haver um controlo contínuo e mais rigoroso por parte das autoridades, com o foco na prevenção e na gestão da sustentabilidade das florestas;
  • é necessário trazer de volta práticas de gestão florestal sustentáveis e subsidiar empresas e agricultores que trabalham de forma sustentável;
  • deve-se reforçar o corpo de guardas florestais que controlam regularmente as florestas (tanto públicas como privadas).

Desafio:

O investigador lança um desafio interessante a todos àqueles que duvidam do impacto da presença cada vez mais dominante de eucaliptos nas florestas portuguesas.

“Entre numa floresta, sente-se durante cinco minutos e não faça mais nada senão ouvir. Primeiro faça-o numa plantação de eucaliptos e depois numa floresta virgem e tente descobrir as diferenças.”

Fontes: Article “Mapping of Eucalyptus in Natura 2000 Areas”; MDPI; Público

Imagem de destaque: Retirada da plataforma flickr.

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