Durante a 25ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, que decorreu em Madrid no final do ano de 2019, foi divulgado o Índice de Desempenho das Alterações Climáticas 2020 (Climate Change Performance Index 2020 – CCPI), que avaliou 57 países e os países da União Europeia (UE), responsáveis no total por mais de 90% das emissões de gases de efeito de estufa.
A avaliação é da responsabilidade da associação de defesa do ambiente alemã Germanwatch, do NewClimate Institute e da Rede Europeia para a Ação Climática.
Publicado anualmente desde 2005, o Índice de Desempenho das Mudanças Climáticas pretende aumentar a transparência na política climática internacional e permitir a comparação dos esforços de proteção climática e do progresso feito por cada país, destacando os que têm melhores práticas. Pretende ainda colocar pressão política e social sobre os países que não tomam medidas ambiciosas para a proteção climática.
O CCPI avalia o desempenho de cada país em quatro categorias:
- emissões de GEE (40% da classificação geral),
- energia renovável (20%),
- uso de energia (20%)
- política climática (20%).
A nível global, os resultados do CCPI 2020 referem que o consumo de carvão está a decrescer e que a utilização das energias renováveis continua a aumentar.
Como já tem vindo a ser habitual, os responsáveis pelo novo Índice de Desempenho das Alterações Climáticas não atribuíram os três primeiros lugares do ranking, por consideram que nenhum país os merece. Assim, a liderar a tabela, mas em 4º lugar, encontra-se a Suécia, seguida da Dinamarca que subiu 10 posições e Marrocos que ocupa o 6º lugar.
Os Estados Unidos aparecem como o país com pior desempenho, devido ao recuo da administração de Trump na estratégia de proteção do ambiente. No final da lista encontram-se também países como a Arábia Saudita e a Austrália. Já a China, país com mais emissões do mundo, subiu três posições e está no 30.º lugar. Estes países, muito influenciados pela indústria do carvão e do petróleo, estão a causar grande preocupação, pois apresentam um desempenho que varia entre baixo a muito baixo nas emissões e desenvolvimento de energia renovável, bem como na política climática.
Olhando para o desempenho da União Europeia como um todo, os resultados do CCPI apresentam uma descida de 6 posições desde o ano passado, ocupando atualmente o 22º lugar do ranking. Apesar da descida, a UE integra a maioria dos países classificados com desempenho elevado (oito). No entanto, há ainda outros oito países com desempenho baixo e dois com desempenho muito baixo, como é o caso da Bulgária e da Polónia. Atualmente a UE representa 9% das emissões globais.
Resultados de Portugal
Portugal caiu oito lugares no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas, face a ano anterior (em 2018 ocupava a 17ª posição).
Com a pior posição de sempre e com o desempenho do país a descer em quase todas as categorias, Portugal encontra-se atualmente no 25.º lugar, o que corresponde a um desempenho médio (em 2018 estava classificado com desempenho alto), destacando-se apenas de forma positiva na categoria “políticas climáticas”, tanto a nível nacional, como internacional.
Os especialistas reconhecem o compromisso do país com a meta da neutralidade carbónica até 2050 (Portugal foi o primeiro país do mundo a apresentá-la em 2018, tendo sido aprovada em julho de 2019), bem como o fim antecipado das centrais a carvão.
Quais os motivos desta descida?
– Na categoria de emissões de gases com efeito de estufa, Portugal tem uma classificação muito baixa, devido especialmente ao aumento das emissões entre 2012 e 2017.
– O fim da crise económica refletiu-se no aumento do uso da energia e das emissões e este foi outro fator que levou à queda no ranking.
Os efeitos das alterações climáticas têm sido amplificados pelas secas. Como consequência disso, os responsáveis pelo CCPI salientam os grandes incêndios no país em 2017, afirmando que devido às secas, Portugal não pôde recorrer à energia hidroelétrica da mesma forma e teve de usar combustíveis fósseis, o que justifica a baixa classificação na categoria das energias renováveis e uso de energia.
– Os responsáveis por esta classificação criticam ainda o país por ter continuado a fornecer benefícios fiscais de 2,3 bilhões de euros para o carvão em 2018, mesmo depois da implementação do imposto sobre carbono e combustíveis fósseis.
Apesar dos pontos negativos, os especialistas elogiam Portugal por defender ações climáticas ambiciosas, mais recentemente no contexto de maior ambição para as metas de 2030 e 2050 a nível da UE e pelo seu desempenho internacional em política climática, levando o país a ter uma classificado muito alta nessa categoria.
Os resultados do Índice de Desempenho das Alterações Climáticas 2020, foram definidos a partir de um conjunto de estatísticas da Agência Internacional de Energia relativas a 2017 (última informações disponíveis). Os peritos analisaram as emissões atuais de gases na atmosfera e também as previstas para os próximos anos, assim como a capacidade de gerar energia renovável e as políticas climáticas de cada país.