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“Cientistas detetam microplásticos em órgãos e tecidos humanos”. A notícia datada de 17 de agosto deste ano e libertada pela Agência Lusa dá conta de uma investigação levada a cabo por cientistas norte-americanos que levou à descoberta de microplásticos e nanoplásticos em órgãos e tecidos humanos. Apesar de ser ainda impossível perceber se estes materiais não degradáveis possam causar efeitos nefastos na saúde, a verdade é que a descoberta não deixa de ser preocupante.
Consumimos demasiado plástico, isto é inegável. Segundo um estudo da World Wildlife Fund (WWF), em Portugal, 72% do lixo encontrado em zonas industriais e de estuários são microplásticos – partículas com menos de 5 milímetros que resultam da degradação do plástico. As zonas mais afetadas, com maiores densidades de microplásticos, são Lisboa e a Costa Vicentina pela proximidade aos estuários do Tejo e Sado.
Esta poluição por microplásticos tem repercussões importantes não só na cadeia alimentar marinha, mas também em humanos. Estima-se que:
- 20% dos peixes de consumo quotidiano tenham microplásticos nos seus estômagos;
- 80% das tartarugas-marinhas-comuns comam lixo – que na sua maioria é plástico.
Consumimos demasiado e uma parte generosa dos produtos consumidos vem embalada em plástico. Não há planeta B e o plástico não é biodegradável. Vários governos, ONG’s (Organizações Não Governamentais), empresas e cidadãos anónimos, alertados por esta situação insustentável, já se puseram em marcha.
Governo: Planeta ou Plástico?
Com 721 milhões de garrafas de plástico, 259 milhões de copos de café descartáveis, mil milhões de palhinhas e 40 milhões de embalagens descartáveis (take away ou fast food) consumidas em média por ano, Portugal começou a lutar mais seriamente contra este flagelo em 2018 com a aprovação de uma resolução que proibia a administração direta e indireta do Estado de usar garrafas, sacos e louça de plástico.
A medida seguinte veio já em julho deste ano, com a transposição, seis meses antes dos restantes países da EU, da diretiva europeia que vem proibir a venda de objetos como palhinhas, talheres, copos e cotonetes de plástico. Dentro de três anos será obrigatória a existência de sistemas de depósito de embalagens de bebidas em plástico, vidro, metais ferrosos e alumínio com depósito não reutilizáveis.
Cidadãos: Planeta ou Plástico?
Se, da parte legislativa, começa a surgir uma efetiva consciencialização para o hiperconsumo de plástico, da parte dos cidadãos, e apesar de 96% dos portugueses terem afirmado num inquérito conduzido pela associação ambientalista Quercus estarem cientes do problema ambiental associado aos plásticos e microplásticos, ainda há um caminho muito longo a percorrer. Apesar de reconhecerem o problema, menos de 50% admitia ter mudado o seu comportamento em relação ao consumo de plástico e 22.6% não conheciam as alternativas ecológicas a grande parte dos produtos descartáveis – falamos de sacos de compra de pano, escovas de bambu, garrafas reutilizáveis, alternativas aos cotonetes, etc.
A consciencialização é como uma bola de neve, através do exemplo e das boas práticas a imagem deixada neste inquérito vem alterando-se e, em fevereiro de 2019, um estudo realizado pela Marktest/Novo Verde, dizia-nos que 8 em cada 10 portugueses afirmava fazer a reciclagem e apontava para um crescimento de 8,8% na recolha de resíduos de embalagem em Portugal.
Empresas e Instituições: Planeta ou Plástico?
Informação e consciencialização são o segredo, um segredo que muitas empresas portuguesas já descobriram, inclusive companhias ligadas à produção de garrafas de plástico como a Logoplaste.
Este fabricante de garrafas de plástico para gigantes como a Henkel, Coca-Cola, L’Oréal ou Danone, decidiu utilizar material plástico reciclado, o que permite reduzir o consumo de materiais plásticos de origem fóssil, e algumas das embalagens produzidas já incorporam até 100% de conteúdo em material reciclado. Até 2025, o objetivo da Logoplaste é eliminar as embalagens de plástico problemáticas ou desnecessárias e passar de modelos de uso único para modelos de reutilização. Pretendem ainda que 100% das embalagens que fabricam sejam recicláveis ou reutilizáveis, de forma a aumentar o conteúdo reciclado nas embalagens que produzem.
A esta medida vinda de dentro da própria indústria do plástico, junta-se a Adalberto, empresa têxtil no concelho de Santo Tirso cuja meta não é menos ambiciosa: abolir o uso de plástico.
Com um plano a três anos para transformar a Adalberto numa empresa 100% sustentável, o plano estratégico em marcha já permitiu substituir todas as embalagens de plástico por papel FFC (papel proveniente de florestas com plantação controlada) e utiliza fitas de tecidos provenientes do desperdício dos materiais. Para 2021, o objetivo é acabar com as embalagens de plástico e passar a utilizar painéis solares para reduzir o consumo de energia.
Este compromisso para a redução do plástico na nossa sociedade tem um forte aliado nas potencialidades das tecnologias digitais. Veja-se o caso do Unibanco, instituição bancária especializada em soluções de crédito que à redução do plástico por via do lançamento de um novo cartão Unibanco ecológico em PVC degradável para substituir o tradicional cartão de crédito em plástico, junta uma aposta na digitalização dos serviços que oferece aos clientes e que tradicionalmente requerem um consumo de papel elevado, nomeadamente a adesão a cartões de crédito e crédito pessoal (que agora pode ser feito de forma 100% digital), a adesão ao extrato digital e a aposta na app Unibanco, a partir da qual os clientes podem gerir todos os seus movimentos sem deslocações.
Se, como vimos, a “plastificação” do planeta recebeu um rotundo STOP por parte da Adalberto ou do Unibanco, a start-up Soditud de Santarém está apostada em substituir o plástico pelo plástico biobase, produzido a partir de biomassa ou plantas em vez de hidrocarboneto. Compostáveis e ecofriendly, os pratos e as palhinhas produzidos por esta empresa são comestíveis e a louça biodegradável. Basta colocar no lixo normal que, em 20 dias, ele desaparece.
Soluções
Os peritos são unânimes: as soluções para reduzir a quantidade de plástico passam por:
- uma economia circular através do reaproveitamento dos desperdícios face à escassez cada vez maior das matérias-primas;
- uma responsabilidade social de todos os consumidores.
É fundamental que os produtos de plástico, por via do ecodesign, sejam projetados cada vez mais para a reciclagem e para o ambiente, com o propósito de aumentarmos a sua reciclabilidade, sempre com o princípio básico de não comprometermos a sua função.
Criar conhecimento e tecnologia para melhorar a reciclagem e produzir produtos que tenham uma relação com o ambiente mais favorável a que se junta a indispensável contribuição e responsabilidade dos consumidores, são os fatores base para que a resposta definitiva à questão “Planeta ou Plástico?” seja cabalmente Planeta!