O nosso clima está a mudar. Evidências científicas mostram que a temperatura média global está a aumentar e os padrões de precipitação estão a mudar. Também mostram que glaciares, gelo do mar do Ártico e a camada de gelo da Gronelândia está a derreter. O V Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (pode consultar o resumo nos slides abaixo) mostra que o aquecimento desde meados do século XX é principalmente causado pelo aumento das concentrações de gases com efeito de estufa como resultado das emissões das atividades humanas. Combustíveis fósseis e alterações do uso dos solos são os grandes responsáveis desta situação.
Mesmo com reduções substanciais nas emissões de gases com efeito de estufa, espera-se que o clima se altere e que os impactes serão sentidos em todo o mundo. Espera-se que cheias e secas se tornem mais frequentes e intensas. Temperaturas mais quentes, mudanças nos padrões e níveis de precipitação, ou eventos meteorológicos intensos já estão a produzir efeitos na nossa saúde, ambiente e economia.
Os eventos meteorológicos extremos, como cheias e tempestades, podem devastar pequenas comunidades e até regiões ou países. Ondas de calor podem amplificar a poluição atmosférica, agravar doenças cardiovasculares e respiratórias, e em alguns casos provocar em perdas de vidas.
Oceanos mais quentes podem alterar toda a cadeia alimentar e a vida marinha, adicionando pressões extra aos stocks de peixe, já sobrexplorados. Temperaturas mais altas podem alterar também a capacidade dos solos de armazenar carbono – a segunda maior reserva de carbono do planeta, depois dos oceanos. Secas e temperaturas mais altas podem alterar a produção agrícola, provocando maior competição entre setores económicos pelos preciosos recursos, como água e terra.
Estes impactes resultam em perdas reais. Estudos recentes estimam que, sem ações de adaptação, as mortes relacionadas com o calor podem chegar a 200 mil por ano na Europa em 2100. O custo de estragos causados por cheias em rios podem ser mais que 10 biliões de euros por ano. Outros impactes relacionados com as alterações climáticas incluem os estragos causados por incêndios florestais, reduções na produção agrícola, perda de dias de trabalho por doenças respiratórias.
Confrontados com os atuais e futuros eventos, os europeus não têm outra hipótese senão adaptarem-se às alterações climáticas. A União Europeia tem já uma estratégia para ajudar os países a planearem as suas atividades de adaptação, e mais de 20 países europeus adotaram estratégias nacionais.
Alguns projetos de adaptação envolvem grandes construções de novas infraestruturas (diques e sistemas de drenagem para cheias), enquanto outros propõem a restauração de ecossistemas para permitir que a natureza faça face aos impactes das alterações climáticas, como excesso de água ou de calor. Diferentes iniciativas e oportunidades de financiamento existem para ajudar países, cidades e regiões a prepararem-se para os impactes das alterações climáticas e reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa.
Portugal criou um instrumento que promove a identificação de um conjunto de linhas de acção e de medidas de adaptação a aplicar – Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas – ENAAC.
A severidade das alterações climáticas dependerá de quanto e com que rapidez conseguimos cortar as emissões de gases com efeito de estufa na nossa atmosfera. Se a temperatura média global aumentar acima dos 2 ºC, as alterações climáticas terão impactes muito mais severos na nossa saúde, ambiente e economia. Um aumento de 2 ºC significa que a temperatura aumentará mais de 2 ºC em alguns locais do mundo, especialmente no Ártico, onde os impactes ameaçarão sistemas naturais únicos.
A União Europeia estabeleceu metas ambiciosas a longo-prazo para a mitigação das alterações climáticas. Em 2013, a União Europeia já tinha reduzido as emissões em 19%, comparativamente com os níveis de 1990. O objetivo de uma redução de 20% até 2020 está ao nosso alcance. Alcançar uma redução de pelo menos 40% das emissões europeias até 2030 e uma redução de 80 a 95% até 2050 irá depender em parte da capacidade da União para canalizar quantias suficientes de fundos públicos e privados para tecnologias sustentáveis e inovadoras.
No entanto, uma redução das emissões europeias resolveria o problema apenas parcialmente, uma vez que a União Europeia é responsável apenas por 10% das emissões de gases com efeito de estufa a nível global. É claro que a atingir a meta dos 2 ºC requer um esforço global com cortes substanciais nas emissões. Neste contexto, negociações sobre o clima (COP21) precisam de ser um ponto de viragem para um acordo global sobre a redução das emissões de gases de efeito de estufa e prestar apoio aos países em desenvolvimento.
Este texto foi escrito por Hans Bruyninckx, Diretor Executivo da European Environmental Agency (EEA), e publicado originalmente no site da EEA.
A NOCTULA – Consultores em Ambiente foi responsável pelo desenvolvimento da matriz base do processo de EcoAuditoria da Bacia Hidrográfica do rio Douro, no âmbito do projeto internacional adaptaclima II. Entre os objetivos do projeto destaca-se a implementação de medidas de adaptação às alterações climáticas em Espaços Naturais Protegidos.