Por vezes, a população de uma espécie pode diminuir tanto que só pode ser encontrada num determinado local. E por vezes, esses locais começam a enfrentar ameaças que antes não existiam. É portanto, extremamente crucial proteger estes locais para evitar que as espécies sejam extintas.
Entre 2015 e 2018, diversos peritos mundiais em conservação avaliaram 853 locais, distribuídos por 109 países, que funcionam como último refúgio para cerca de 1.483 espécies em perigo de extinção. Através deste levantamento, foi possível concluir que quase metade destes locais não têm qualquer estatuto de proteção.
Este é o resultado de um estudo feito pela Aliança Extinção Zero (Alliance for Zero Extinction – AZE), uma parceria global para a conservação, lançada em 2005, que identifica, mapeia e conserva as zonas que têm as únicas populações conhecidas de espécies criticamente ameaçadas.
Ian Burfield da BirdLife International e um dos coordenadores deste estudo, explicou que “se quisermos salvar uma espécie, a prioridade número um é proteger os seus habitats. Mas 43% destes locais não têm nenhuma proteção formal”.
Os 853 locais AZE foram identificados como os últimos refúgios de espécies criticamente ameaçadas, desde anfíbios, aves, corais e mamíferos a tubarões, raias, camaleões, crocodilos, iguanas, tartarugas e algumas espécies de plantas. A maior percentagem são anfíbios (41%), seguida dos mamíferos (15%) e das aves (13%).
A lista com os locais AZE sofreu a sua 3ª atualiação (depois das versões de 2005 e de 2010). A avaliação foi feita por peritos da BirdLife International, da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e da American Bird Conservancy (ABC), apoiados por uma rede com mais de 150 especialistas em espécies, em todo o mundo.
Este novo levantamento pode ajudar o mundo da conservação a decidir onde concentrar os seus esforços e informar quais os locais que devem ser evitados. A Drª Noëlle Kümpel, chefe de Política da BirdLife International e uma das coordenadoras do projeto, afirma que “se perdermos estas áreas, perderemos espécies inteiras que não são encontradas em nenhum outro lugar na Terra”.
Para consultar o mapa atualizado com os 853 locais AZE, clique AQUI.
Mas também há boas notícias…
Sucessos anteriores mostram que a abordagem AZE é eficaz. Este ano (2018) foram removidas 107 espécies que até então ocupavam um local AZE.
Uma delas é o Priôlo (Pyrrhula murina), espécie endémica da ilha de São Miguel, nos Açores, devido ao trabalho realizado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). De apenas 40 casais em 2005, a população única no mundo registou quase 1.000 indivíduos em 2016.
Quando esta espécie passou da classificação “Em perigo para vulnerável”, foi removida da lista de espécies AZE.
Na Colômbia também existe um bom exemplo de proteção de espécies e habitats. A criação da Reserva de Anfíbios Ranita Dorada, para proteger duas espécies de rãs (Andinobates dorisswansonae e Andinobates tolimense) melhorou o seu estatuto de tal forma, que atualmente ambas deixaram de ser espécies AZE.
A necessidade de ampliar os sucessos já existentes é um dos grandes compromissos que os países com locais AZE devem cumprir. Este tema foi um dos focos da 14.ª reunião da Conferência das Partes na Convenção sobre a Diversidade Biológica (COP14), que decorreu no Egito (17 a 29 de novembro de 2018).
Esta convenção focou-se na revisão ao atual Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, a fim de definir uma visão a longo prazo e preparar o quadro mundial pós-2020 para a biodiversidade.
Mike Parr, presidente da ABC e Chairman da AZE, comentou esta avaliação dizendo que “está comprovado que áreas protegidas bem geridas evitam extinções”. Afirma ainda que “os Governos de, pelo menos, 20 países já estão a trabalhar para proteger os seus locais AZE, mas é preciso urgentemente de todos os 109 países e territórios com locais AZE para tomarem medidas para proteger estes lugares únicos.”
Um dos países com o maior número de locais AZE é o Brasil. Foi o primeiro país a criar legislação para garantir que os locais AZE sejam considerados no desenvolvimento nacional e no planeamento da conservação.
Ugo Eichler Vercillo, diretor do Departamento da Conservação das Espécies no Ministério brasileiro do Ambiente, afirmou que “proteger os locais AZE é a forma mais rápida para conseguir cumprir as metas mundiais para aumentar as áreas protegidas e para travar o declínio das espécies”.
Fontes: Wilder, Birdlife, Birdlife – press release
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