Nos resíduos da indústria do papel pode estar a solução para remover das águas e das aquaculturas os restos de fármacos usados pelos produtores.
Uma equipa de químicos na Universidade de Aveiro (UA), conseguiu converter as lamas que resultam desses resíduos, num biocarvão que é capaz de atrair e reter uma vasta gama de substâncias tóxicas.
Este trabalho está a ser realizado no âmbito do projeto RemPharm e centrou-se na remoção de resíduos de analgésicos e os resultados são promissores:
- Os biocarvões resultantes das lamas (uma matéria prima barata que iria para o aterro), conseguem competir com outros já existentes no mercado.
A equipa de investigadores focou-se no desenvolvimento de um biocarvão adsorvente (material capaz de fixar na respetiva superfície moléculas presentes em fluídos) utilizando como matéria-prima resíduos agrícolas e industriais produzidos em grande escala.
A equipa do Departamento de Química afirma que “o propósito final consistiu na utilização dos adsorventes produzidos para remoção de poluentes das águas dos sistemas de recirculação em aquacultura e foram escolhidos os anestésicos veterinários como contaminantes a testar”.
No que respeita aos adsorventes desenvolvidos, os investigadores concluíram que, de todos os resíduos testados, as lamas da indústria da pasta e do papel são os percursores mais promissores para produção de adsorventes.
Vantagens ambientais
Na descontaminação das águas, o método de adsorção tem a vantagem de concentrar em poucas gramas de um sólido (o adsorvente) o contaminante que se encontra num grande volume de água, não havendo produção de subprodutos que podem ser tóxicos.
O uso de um resíduo para a produção desses adsorventes, (neste caso através da utilização das lamas), é uma vantagem relativamente aos que são produzidos através de materiais de origem mineral, evitando assim a exploração destes recursos naturais e o custo associado à sua extração.
Os investigadores explicam que “os biocarvões produzidos a partir dos resíduos industriais (lamas primárias e biológicas resultantes do tratamento de efluentes da indústria da pasta e do papel) mostraram ser adsorventes bastante promissores, com percentagens de remoção dos anestésicos muito boas”.
Aplicação deste tratamento
Quanto à sua aplicação, concluiu-se que o tratamento de adsorção pode ser uma opção a implementar nos sistemas de recirculação em aquacultura, no entanto, os investigadores alertam dizendo que, “deve ser desenvolvido mais trabalho, no sentido de provar a viabilidade técnica e económica da aplicação deste tratamento”.
Para além dos anestésicos utilizados pelos aquicultores para reduzirem o stress dos peixes, os novos adsorvestes podem ser utilizados para remover outros contaminantes.
Atualmente, o grupo de investigação está a estudar a ativação dos carvões produzidos através dos resíduos da indústria da pasta e do papel e a sua funcionalização para remoção seletiva de contaminantes da água.
Fonte: Portugal2020
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