A Águia-de-Bonelli (Aquila fasciata), é uma das aves de rapina que se encontra em regressão em grande parte das suas populações europeias. Metade da população desta espécie no Mediterrâneo Ocidental está na União Europeia, sobretudo em Espanha, Itália (concretamente na Sicília) e França.
Graças às ações desenvolvidas no âmbito do Projeto Europeu AQUILA a-LIFE, coordenado pelo Grupo de Reabilitação da Fauna Autóctone e do seu Habitat – Grefa, a população da Águia-de-Bonelli, também chamada de Águia-Perdigueira aumentou, registando na temporada reprodutora de 2020 um recorde de nascimentos, com 15 novas crias a nascer no seu habitat natural.
Em comunicado, a organização Grefa, explicou que 9 crias nasceram na ilha de Mallorca e as outras 6 na Comunidade de Madrid.
Graças à libertação de mais de 50 aves pelo projeto AQUILA a-LIFE, que se juntaram às aves libertadas no projeto anterior (LIFE Bonelli), atualmente existem cerca de 20 novos casais de Águias-de-Bonelli em zonas onde esta espécie tinha desaparecido ou estava em vias de extinção.
Ernesto Álvarez, presidente do Grefa, refere que “este número demonstra a importância dos projetos de recuperação de espécies ameaçadas baseados na reintrodução de exemplares e no trabalho conjunto de diferentes ONG e entidades”.
Assista aqui a um pequeno documentário, que mostra o trabalho desenvolvido pela ONG espanhola GREFA, para conservação desta espécie:
Em Portugal, esta espécie está classificada como espécie ‘Em Perigo de Extinção‘, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).
Esta águia de rapina ameaçada tem sido alvo de proteção e conservação através do projeto LIFE Rupis, um projeto coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).
Não se sabe ao certo quantas Águias-Perdigueiras existem em Portugal. A última estimativa nacional é de 2011 e aponta para um total de 116 a 123 casais.
O Life Rupis – Conservação do Britango (Neophron percnopterus) e da Águia-Perdigueira, no vale do rio Douro, é um projeto de conservação transfronteiriço, cofinanciado através do programa LIFE da Comissão Europeia.
O projeto decorre em território português e espanhol, mais concretamente nas áreas protegidas do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda e dos Arribes del Duero.
Tem como objetivo a implementação ações que visam reforçar as populações de Britango e Águia-Perdigueira, através da redução da sua mortalidade e do aumento do seu sucesso reprodutor. O Abutre-Preto (Aegypius monachus) e o Milhafre-Real (Milvus Milvus) são espécies que também beneficiam das ações deste projeto.
4 medidas que garantem a sobrevivência da Águia-de-Bonelli
Rita Ferreira, do Grupo de Trabalho em Águia-de-Bonelli, enumerou as principais medidas que poderão melhorar a situação desta águia em Portugal, garantindo a sua sobrevivência e expansão.
O grande objetivo consiste em proteger as áreas onde fazem o ninho, diminuir a mortalidade de aves e promover a abundância de presas. Isto consegue-se com algumas medidas:
- manter a longo prazo as árvores de grande porte, que utilizam para fazer os seus ninhos e o habitat em redor.
- assegurar a tranquilidade em redor dos ninhos, quer sejam em árvore ou em escarpa, durante a época de reprodução (que decorre de Dezembro a Junho).
- incorporar nas linhas elétricas dispositivos que evitem a eletrocussão. Esta intervenção é especialmente necessária em territórios de reprodução e áreas de concentração de juvenis em dispersão. Atualmente, esta é uma das principais causas de mortalidade da espécie na Península Ibérica.
- fomentar as condições de habitat para as suas presas selvagens como o coelho-bravo, a perdiz e o pomba-torcaz. A abundância destes animais afeta o sucesso reprodutor da Águia-Perdigueira.
Na opinião de Rita Ferreira, “estas ameaças só podem ser contidas com a monitorização regular dos casais e das ameaças, um maior envolvimento das partes com responsabilidade na sua conservação e uma maior sensibilização das pessoas para a importância de predadores no equilíbrio do ecossistema em que vivemos”.
3 locais onde poderá observar a Águia-de-Bonelli
- Península de Sagres;
- Lezírias do Tejo;
- Planícies de Castro Verde.
6 curiosidades sobre a Águia-de-Bonelli
Em 2018 esta ave de rapina foi considerada a Ave do Ano, pela Spea. A escolha da Águia-Perdigueira teve como objetivo a sensibilização para as ameaças que a espécie enfrenta e para a sua importância no equilíbrio dos ecossistemas, como predador de topo na cadeia alimentar. Veja aqui 6 curiosidades sobre esta ave de rapina:
1) O nome Perdigueira deve-se ao facto de caçar outras aves em pleno voo, desde perdizes a pombos. Os pombos domésticos são no entanto, responsáveis por uma das ameaças à conservação da espécie, uma vez que lhe transmitem a tricomaníase, uma doença mortal. Também se alimentam de mamíferos de pequeno porte, como coelhos e répteis (estes com menos frequência).
2) A Águia-Perdigueira é uma ave de rapina de grande porte. Os adultos distinguem-se pelo corpo claro, pelas asas escuras e pela mancha branca no dorso, que é uma característica única desta espécie. Os juvenis têm uma plumagem muito distinta dos adultos, maioritariamente arruivada.
3) É uma espécie residente e por isso os adultos podem ser observados durante todo o ano nos seus territórios. Já os juvenis são facilmente observáveis nas suas áreas de dispersão. O Estuário do Tejo é um local que oferece boas observações desta ave durante o ano todo, pois é uma área de alimentação importante para adultos e juvenis.
4) A sul do Tejo, nas planícies alentejanas, fazem quase sempre os ninhos em árvores, sobretudo em grandes sobreiros, eucaliptos e várias espécies de pinheiros. Isto também acontece noutros países mediterrânicos, como o Chipre e a Tunísia, mas em Espanha, que concentra 60% da população europeia, é muito pouco habitual.
5) A época de reprodução ocorre de Dezembro a Junho. Em meados de março começam a nascer as crias, em geral uma ou duas por cada ninho. Estas aves são monogâmicas e ambas cuidam das ninhadas. Cada casal possui vários ninhos, que utilizam de forma alternada. No norte, as Águias-Perdigueiras costumam nidificar em escarpas, nos vales de grandes rios como o Tejo e o Douro.
6) As 3 principais ameaças a esta espécie são:
- o desaparecimento do seu habitat devido às mudanças no uso dos solos. Esta ameaça no Nordeste Transmontano leva à diminuição das presas e a sul traduz-se no corte de grandes árvores, provocando o desaparecimento dos locais para os ninhos.
- a perturbação na época de reprodução, de Dezembro a Junho. Esta espécie é particularmente sensível à presença humana em redor dos ninhos durante esta fase.
- a eletrocussão em linhas elétricas de média e alta tensão que afeta tanto os adultos como os jovens.
Fontes: Wilder, Rupis, Wilder, Wilder,Aquila-a-life, The living med, Grefa
Imagem de destaque: Retirada da plataforma Flickr
A NOCTULA – Consultores em Ambiente presta serviços especializados de monitorização, mitigação e investigação para aves aquáticas e marinhas, aves de rapina, passeriformes em geral, aves de montanha, estepárias e noturnas.
Metodologias:
- Censos de aves (transectos, pontos fixos, método dos mapas, emissão de vocalizações conspecíficas (também designado por “chamamentos de aves noturnas”));
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- Monitorização de Avifauna (Comunidade de aves de rapina e outras aves planadoras, particularmente na comunidade de peneireiro (Falco tinnunculus) – Parque Eólico da Maunça (fase de construção)
- Monitorização de avifauna e quirópteros no Parque Eólico do Guardão – Fase de pré-construção;
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