Rewilding: Expansão verde para restaurar os ecossistemas

Terras agrícolas abandonadas, como as que se encontram em várias regiões de Portugal, representam um vasto potencial para iniciativas de rewilding, promovendo tanto a resistência ao fogo como a resiliência face às alterações climáticas.

Um novo estudo, publicado na revista científica Current Biology, revelou que cerca de 25% do território europeu, o que equivale a 117 milhões de hectares, possui boas condições para a restauração dos ecossistemas para o seu estado natural, ou seja, pré-intervenção humana.

De acordo com o estudo, a gestão natural e autorregulada destas áreas tem maiores oportunidades em zonas localizadas na Escandinávia, Escócia e em algumas áreas da Península Ibérica.

O estudo concluiu também que a implementação do rewilding pode permitir que países como Portugal, Espanha, Reino Unido e França atinjam as metas da Estratégia Europeia para a Biodiversidade 2030. O objetivo é garantir que 30% do território de cada país seja dedicado à conservação da biodiversidade, com 10% dessas áreas sujeitas a proteção rigorosa. 

O que é Rewilding?

O rewilding, ou renaturalização, é uma abordagem de conservação que visa restaurar ecossistemas ao seu estado natural, permitindo que a natureza recupere o seu equilíbrio com o mínimo de intervenção humana. Isto pode envolver a reintrodução de espécies essenciais, como predadores que regulam populações, a recuperação de habitats degradados e a criação de corredores ecológicos para ligar áreas naturais fragmentadas.

Para que os projetos rewilding sejam viáveis, são necessárias três condições fundamentais:

a disponibilidade de áreas superiores a 10.000 hectares

um baixo índice de impacto humano

— presença de espécies-chave essenciais para o equilíbrio ecológico.

Miguel Bastos Araújo, da Universidade de Évora e do Museu Nacional de Ciências Naturais, explica que há necessidade de adotar estratégias regionais específicas, que distingam o rewilding ativo, que envolve a reintrodução de espécies e o rewilding passivo, que se baseia na recuperação natural sem intervenções adicionais. Este último, para ser bem-sucedido, requer áreas superiores a 100.000 hectares e uma presença suficiente de herbívoros e carnívoros.

Em Portugal, não existem áreas com extensão suficiente, nem diversidade suficiente de espécies chave de carnívoros para o rewilding passivo, mas existem oportunidades para o rewilding ativo.

Veados, corços, cabras alpinas, bisontes, castores e renas, mas também coelhos e lebres, são alguns dos herbívoros identificados como espécies chave para o rewilding, em alternativa aos herbívoros domésticos introduzidos pelos humanos. Quanto aos carnívoros e omnívoros, a lista inclui o lobo, o urso, o gato-bravo, o lince-ibérico e o lince-euroasiático, a lontra, o texugo e também o chacal.

Caso de sucesso (e de resistência ao fogo)

O Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, adotou o rewilding ativo como estratégia de conservação.

Na década de 1990, os lobos foram reintroduzidos nesta área protegida, provocando mudanças significativas na sua dinâmica ecológica. Os herbívoros, que antes eram abundantes e impediam a regeneração da vegetação, passaram a evitar certas regiões devido à presença dos predadores.

Resultado: Regeneração da vegetação nativa

A zona de pastagens deixou de ser uniforme, criando em certas zonas uma paisagem com vegetação nativa que é mais resistente aos incêndios florestais. 

Fonte: Wilder

Imagem de destaque: Retirada da plataforma Freepik.

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