Os polinizadores têm um papel crucial na manutenção dos ecossistemas terrestres e na produção agrícola. Muitas das nossas culturas dependem de polinizadores, mas devido às alterações climáticas muitas espécies encontram-se atualmente em perigo.
Com o objetivo de contribuir para a conservação dos polinizadores, foi lançada recentemente, a polli.NET, uma rede de conservação de espécies polinizadoras, que reúne vários investigadores, conservacionistas, cidadãos, autarcas e produtores.
Conjuntamente com o ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, foi constituída uma Comissão de Coordenação, que tem contribuído para o estudo e desenvolvimento da área científica da Entomologia e da Ecologia da Polinização em Portugal e tem vindo também a trabalhar na definição dos objetivos a curto e a médio prazo desta Rede Colaborativa.
Objetivos
O objetivo principal da rede polli.NET consiste em reunir a comunidade científica e sociedade civil, direta e indiretamente, aos polinizadores e à polinização, de forma a promover a partilha de informação e conhecimento entre todas as partes interessadas.
Esta rede colaborativa tem ainda como objetivo o desenvolvimento de um plano de ação a nível nacional para a avaliação, conservação e valorização dos polinizadores. Este plano de ação abordará várias problemáticas em torno dos polinizadores. As principais questões a dar resposta são as seguintes:
- Avaliação das tendências das populações no território. Estão as populações a crescer, estáveis ou em declínio?
- Que espécies estão ameaçadas e quais os habitats prioritários para a sua conservação?
- Quais são as causas e consequências das alterações na comunidade de polinizadores quer nos ecossistemas naturais quer no setor produtivo (agroecossistemas)?
- Como podemos encontrar um equilíbrio entre polinizadores geridos e selvagens?
- Quais são os impactos de diferentes práticas de gestão ao nível local e ao nível da paisagem na comunidade de polinizadores?
O que levou à criação da Rede polli.NET
O caminho começou a ser traçado quando Portugal aderiu à Promote Pollinators, uma plataforma internacional que junta países preocupados com a polinização, impulsionada pela Plataforma Intergovernamental de Política de Ciência sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema.
Em entrevista à Wilder, Sílvia Castro, a coordenadora do projeto polli.NET, indicou 3 pilares fundamentais que levaram à criação desta rede:
- Em primeiro lugar, os polinizadores são um grupo funcional fundamental à manutenção dos ecossistemas;
- Dadas as atuais ameaças resultantes das alterações globais, desde a perda de habitat natural, à intensificação dos sistemas agrícolas, aumento do uso de fitofármacos e invasões biológicas, às alterações climáticas, é urgente conhecer a situação do território português, de forma a poderem ser delineadas medidas concretas para a conservação destes espécies;
- Apesar de estar patente na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 e dos avanços recentes ao nível internacional, não existe uma estratégia nacional dedicada a este grupo de organismos em particular.
Que polinizadores serão abrangidos pela polli.NET?
A Rede polli.NET irá focar-se nos polinizadores como um todo.
Os polinizadores do território continental pertencem maioritariamente ao grupo dos insetos, incluindo abelhas, borboletas, escaravelhos, moscas das flores, formigas e vespas.
Em sistemas insulares como nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, além dos insetos, existem espécies de plantas polinizadas por aves e répteis (como o massaroco, Echium candicans, polinizado por abelhas, borboletas e répteis).
Medidas práticas previstas na Rede polli.NET?
Segundo Sílvia Castro, o primeiro passo consiste em consolidar a Rede e fazer o mapeamento de competências ao nível nacional, estruturadas como pilares de ação da Rede:
- Conhecimento
- Ação
- Disseminação.
O conhecimento porque é fundamental desenvolver investigação científica para conhecermos as espécies polinizadoras, o impacto das pressões a que estão sujeitos e desenvolver soluções.
O pilar ação porque é crucial implementar soluções para conservar e valorizar os polinizadores que incluam todas as partes interessadas.
E por fim, a disseminação porque é imperativo a criação de uma consciência coletiva para a importância dos polinizadores.
Assentes nestes pilares, a Rede vai desenvolver um plano de ação onde serão definidas várias medidas práticas a implementar. Neste momento já foi criado o site da Rede com todas as atividades relacionadas com polinizadores e polinização dinamizadas ou promovidas pelos membros.
Adicionalmente, foi feita uma candidatura ao Fundo Ambiental de divulgação da importância dos polinizadores em ambientes urbanos para promover a participação ativa dos cidadãos, municípios e escolas através do desenvolvimento de boas práticas nos seus jardins e outros espaços verdes.
Grupos-Alvo
A criação de uma consciência coletiva para a importância dos polinizadores é crucial para uma participação ativa e para o envolvimento da sociedade.
Grupos-alvos como os agricultores e autarcas têm um papel direto na implementação de ações que interferem direta e indiretamente com as comunidades de polinizadores.
Qual a situação atual dos polinizadores? O que falta fazer em Portugal para os conservar?
Há várias espécies em declínio, no entanto, são ainda desconhecidas as tendências das populações no território português.
O conhecimento que existe sobre as espécies presentes no nosso território é muito heterogéneo, ou seja, para alguns grupos existe um bom conhecimento de base (como por exemplo as borboletas), ao passo que para outros grupos de polinizadores o conhecimento é ainda insuficiente (por exemplo, para as abelhas ou para as moscas das flores).
Existe também heterogeneidade no conhecimento ao nível geográfico, existindo zonas mais bem estudadas do que outras.
É ainda desconhecida a função que estas espécies desempenham na natureza, na polinização das plantas silvestres e na polinização das culturas, assim como o impacto dos polinizadores geridos na fauna silvestre.
Sabe-se no entanto, que aplicação de fitofármacos e a gestão local e da paisagem tem um impacto nas populações de polinizadores silvestres, mas é desconhecida qual a melhor forma de encontrar um equilíbrio entre todos os fatores.
Em Portugal existem mais de 1000 espécies de insetos polinizadores, entre abelhas, abelhões, vespas, moscas, borboletas, escaravelhos e formigas.
Já conhece o projeto Polinizadores de Portugal?
Fontes: Wilder