Depois de um incêndio começam a despontar nas zonas ardidas as primeiras plantas. São pequenos pontos verdes que dão esperança, mas muitas vezes, esses pontos são espécies exóticas invasoras que beneficiam do fogo.
Hélia Marchante e Elizabete Marchante, investigadoras do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e responsáveis pelo site Invasoras.pt, identificaram algumas espécies de plantas invasoras mais comuns.
As plantas mais comuns são: a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), especialmente no Litoral, a mimosa (Acacia dealbata) e as austrálias (Acacia melanoxylon) mais habituais na zona do interior.
Espécies de acácias como a Acacia retinodes e a Acacia saligna, também devem ser foco de preocupação, pois a germinação das sementes das acácias é estimulada pelo fogo.
A maioria das espécies de acácia acumula sementes no solo (banco de sementes) em grande número, por vezes muitos milhares por metro quadrado, que podem permanecer viáveis no solo durante muitos anos.
Em muitas das áreas afetadas pelos incêndios estão presentes, em algumas situações com grandes densidades e extensões, espécies como a: háquea-picante (Hakea sericea) e a háquea-folhas-de-salgueiro (Hakea salicifolia). No caso da háquea-picante, a abertura dos frutos e posterior dispersão é estimulada pelo fogo.
As espécies de háqueas acumulam bancos de sementes arbóreos muito numerosos. O fogo estimula a abertura dos frutos e, consequentemente, a dispersão das sementes.
Segundo as investigadoras, é expectável que a invasão por espécies de plantas exóticas pirófitas (plantas invasoras adaptadas ao fogo), em muitas das áreas ardidas se venha a agravar, principalmente por acácias e háqueas. Esta invasão pode surgir de forma mais ou menos rápida, dependendo da disponibilidade de água e das temperaturas.
Se a gestão destas espécies invasoras não for eficaz, a invasão não só ocupará áreas muito extensas, mas poderá também colocar em risco o sucesso de ações de recuperação (plantações, sementeiras, ações facilitadoras das plantas existentes, etc.).
Veja aqui onde se concentram as plantas invasoras em Portugal:
Mapa com a sinalização de acacias e háqueas invasoras
Como travar a invasão das espécies exóticas invasoras?
Algumas das comunidades vegetais começam a recuperar lentamente sozinhas, uma vez que, grande parte do nosso país tem vegetação adaptada ao clima mediterrâneo e por isso, o fogo faz parte da dinâmica natural de muitos destes ecossistemas.
No entanto, outras áreas vão precisar de ajuda para recuperar, especialmente nos locais onde as plantas invasoras vão entrar em competição. Algumas sementes podem ter sido destruídas, dependendo da profundidade a que estavam e das temperaturas que o fogo atingiu em cada local, mas é expectável que muitas venham a germinar e a facilitar a re-invasão das áreas onde ocorriam.
As elevadas taxas de crescimento ou dispersão das plantas invasoras das áreas ardidas, permitem prever que se irão estabelecer mais rapidamente do que outras espécies que regenerem naturalmente ou venham a ser plantadas.
O que fazer?
Avaliar o que recuperar nas áreas ardidas e adaptar a gestão, de forma, a aumentar as hipóteses de sobrevivência das espécies escolhidas, quer sejam as que regeneram naturalmente ou as que forem plantadas.
O pós-incêndio não é a melhor altura para se fazerem sementeiras e plantações. Primeiro deve-se descobrir quais as espécies que vão surgir ou as que irão recuperar naturalmente, ou seja, é crucial adaptar as medidas de recuperação ao desenvolvimento das plantas invasoras que surgirem.
O controlo das invasoras tem de ter em conta questões como a erosão do solo, de forma a estar enquadrado nos planos abrangentes de gestão das áreas.
Agir em áreas consideradas prioritárias. Para gerir o problema é necessário incluir o controlo destas espécies, impedindo que elas re-invadam e ameacem a recuperação ou estabelecimentos das outras espécies.
Respostas rápidas e adaptativas, são fundamentais para conter o estabelecimento e expansão das espécies invasoras da melhor forma.
Adaptar a gestão à realidade e aproveitar todos os recursos para gerir as invasoras antes que cresçam de novo e seja muito mais difícil lidar com elas.
Intervir nas jovens plântulas que germinaram há pouco tempo e ainda não têm reservas armazenadas nas partes subterrâneas que lhes permitam rebentar vigorosamente. Antes que as plantas cresçam muito, devem ser eliminadas. Processo que se deverá fazer depois de terem morrido aquelas que não vingariam.
No processo de corte, deve-se ter em consideração o tamanho da planta invasora, não devendo ultrapassar “um palmo”, de forma a diminuir a probabilidade de formarem rebentos.
É essencial que as plantas invasoras nunca cresçam o suficiente para voltar a formar sementes, caso contrário, estará recriado o ciclo da sua regeneração.
Apesar de não ser muito frequente, algumas acácias sobrevivem à passagem do fogo e recuperam. Deve-se proceder à eliminação destas plantas. As acácias podem se controladas através de métodos como o descasque, corte (mas é provável que voltem a rebentar, exigindo ações de controlo posteriores), corte+herbicida (seguindo todos os cuidados necessários e só quando for justificável e possível).
Consulte a lista atualizada de espécies exóticas invasoras que suscitam preocupação na União Europeia.
A NOCTULA – Consultores em Ambiente elabora e implementa planos de gestão para espécies específicas de fauna e flora e medidas de minimização e compensatórias de impactes sobre as mesmas.
Fomos responsáveis pela Inventariação e Cartografia de Manchas de Espécies Exóticas Invasoras, na área do Aproveitamento Hidroelétrico do Mel.
O Plano de Monitorização dirigido à espécie Murbeckiella sousae na área dos parques eólicos de Seixinhos e Penedo Ruivo (Serra do Marão) foi outro dos trabalhos realizados pela NOCTULA no âmbito da Monitorização de Sistemas Ecológicos.
Caso necessite de algum serviço na área da Monitorização de Sistemas Ecológicos, não hesite em contactar-nos.
Fonte: Wilder
Imagem de destaque: Acacia dealbata – Elizabete-Marchante