Quais são os habitats em risco na Europa?
Agora há um documento que responde a esta questão: A Europa já tem a sua primeira lista vermelha dos habitats terrestres e marinhos.
A Comissão Europeia publicou em 2017 a primeira Lista Vermelha de Habitats, que já se encontra disponível e acessível a todos.
Nesta lista consta o estatuto de todos os habitats naturais e seminaturais terrestres, água doce e habitats marinhos, numa abordagem que vai para além dos habitats que estão legalmente protegidos pela Diretiva Habitats.
A lista cobre os 28 países da União Europeia (UE) e também países que estão no Conselho da Europa (com exceção da Rússia). Ao todo, cerca 35 países da Europa foram avaliados para determinar o risco de ameaça.
Centenas de especialistas em botânica e ecologia avaliaram 490 habitats, que foram classificados numa escala de “não ameaçados” a “em vias de extinção”. Os relatórios sobre os habitats estão divididos por:
O trabalho de classificação ocorreu de 2013 a 2016 e foi coordenado pelo Instituto de Investigação Ambiental de Wageningen (Holanda), pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) e pela empresa de consultoria ambiental Nature Bureau (Reino Unido).
A Lista Vermelha dos Habitats Europeus, para além dos dois relatórios que resumem o estado dos 490 habitats, contém ainda fichas individuais.
A metodologia utilizada baseia-se na Lista Vermelha da IUCN de Categorias e Critérios de Ecossistemas, um padrão global unificado para avaliar o risco dos ecossistemas. Esta lista identifica os ecossistemas mais expostos ao risco de perda de biodiversidade e os impactos sobre o bem-estar humano, de forma a demonstrar qual o melhor processo de gestão, no sentido de poder reduzir os riscos, aumentar a resiliência e promover a adaptação.
Entre as centenas de especialistas em habitats naturais que participaram na elaboração desta lista, há dois portugueses: Jorge Capelo, investigador auxiliar do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, em Oeiras, e Dalila Espírito Santo, investigadora coordenadora do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa.
Jorge Capelo, foi responsável por todos os habitats da Macaronésia, que inclui os arquipélagos dos Açores, da Madeira e das Canárias, assim como dos habitats arbustivos e de tundra em toda a Europa. O investigador afirma que “não havia até à data nenhuma lista vermelha dos habitats na Europa. Por isso, não se conhecia bem os habitats que existiam no continente europeu”.
Em conjunto, a equipa determinou a área de distribuição dos habitats nos últimos 50 anos, utilizando documentos históricos, levantamentos agrícolas, relatos de viajantes e mapas florestais.
Ao todo, foram classificados 257 tipos de habitats em águas. Destes habitats, 19% dos países da União Europeia e 18% de países europeus, foram classificados como ameaçados. As causas apontadas na ameaça a estes habitats, são:
- a poluição;
- a exploração agrícola em excesso;
- utilização desadequada dos recursos biológicos (pescas e aquacultura);
- a urbanização;
- as alterações climáticas.
Relativamente aos habitats terrestres e de água doce, a lista indica que um terço está ameaçado tanto nos países da UE como nos países europeus não comunitários, respetivamente: nos pântanos, 85% e 54%; nos prados, 53% e 49%; nos habitats de água doce, 46% e 38%; e nas zonas costeiras 45% e 43%. Para a degradação ou regressão destes habitats, são apontadas causas como:
- a agricultura intensiva e extensiva,
- a drenagem,
- a poluição,
- a invasão de plantas e de animais que não pertencem aos habitats;
- silvicultura;
- Alterações climáticas;
- a urbanização e infraestruturas de transportes.
Qual a necessidade de criar uma lista vermelha de habitats?
Os habitats são extremamente importantes para os serviços vitais dos ecossistemas, uma vez que fornecem: proteção ao solo, captura de carbono, provisão de alimentos e mitigação dos impactos do aquecimento global.
Com a lista vermelha é possível perceber com maior pormenor os habitats que estão ameaçados. Pretende ainda chamar a atenção para políticas de conservação coordenadas a nível europeu. “Se cada país conhecer os seus habitats e a sua situação, é mais fácil elaborar medidas com uma dimensão europeia”.
Luc Bas, Diretor do Escritório Regional Europeu da UICN, afirma que “esta primeira avaliação é um passo importante para uma melhor compreensão do estado dos habitats da Europa. A Lista Vermelha de Habitats visa informar e ajudar a melhorar a implementação de políticas da UE, como as diretivas da natureza “.
Qual é a situação em Portugal?
Jorge Capelo, afirma que “existe um risco nos habitats de montanha e áreas costeiras, que deriva da pressão urbanística ou das alterações climáticas. Mais concretamente, de Aveiro para baixo, e depois na costa vicentina e na costa sul.”
Principais conclusões:
- 31% dos habitats que existem em Portugal estão ameaçados;
- Não existe informação sobre mais de 30% dos habitats presentes em território nacional;
- Cerca de 37% dos 118 habitats terrestres identificados para Portugal, presentes na região continental e/ou regiões autónomas dos Açores e Madeira, encontram-se classificados na Lista Vermelha como ameaçados;
- Para 61% dos habitats marinhos não existe informação disponível;
- 23% dos 93 habitats identificados para as áreas marinhas Costa Ibérica e Macaronésia (grupos de ilhas no Atlântico Norte, perto da Europa e da África) estão ameaçados;
- Perto de metade dos habitats terrestres situados em território nacional sofreu uma regressão em termos de área de distribuição;
- Habitats terrestres: 80% dos casos a qualidade do habitat decresceu ou não existe informação disponível.
Imagem de destaque: Fonte “Fapas – Musgo (@ Paulo Santos)”
Uma das áreas de atuação da NOCTULA – Consultores em Ambiente é a Monitorização de Sistemas Ecológicos, nomeadamente:
- Monitorização de Aves,
- Mamíferos terrestres,
- marinhos e voadores,
- Fito e Zooplâncton,
- Invertebrados,
- Herpetofauna (anfíbios e répteis)
- Monitorização de Flora, Vegetação e Habitats.
Trabalhos realizados:
- Monitorização de Tartaranhão-caçador no parque eólico de Negrelo e Guilhado;
- Atividade e mortalidade de Aves e Quirópteros – Parque Eólico Testos II;
- Estudo das comunidades piscícolas ribeira de Santa Natália;
- Monitorização da Toupeira-de-Água com câmaras de “vídeo-armadilhagem”;
- Inventariação e cartografia de manchas de Espécies Exóticas Invasoras;
- Flora na Serra do Marão – Murbeckiella sousae.
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